Fred Thomas - Changer (Resenha)


  “All Are Saved” foi, tecnicamente, o oitavo álbum solo de Fred Thomas, mas foi a primeira vez que ele se comprometeu totalmente a um projeto, levando quase dois anos para terminá-lo. Por esse motivo, o disco carregava uma aura de debut. Isso aliado à energia que o álbum possuía, sua intensidade e as letras um tanto quanto irônicas fez com que o trabalho fosse recebido assim mesmo pela maioria do público não familiarizado com seu nome. Ninguém poderia adivinhar que esse era o projeto de um músico com 15 anos de estrada. Felizmente, o disco deu uma grande revigorada em sua carreira e marcou quase um novo começo para Fred Thomas. Depois da boa recepção de “All Are Saved” vieram mais shows e um reconhecimento que extrapolou os círculos undergrounds de Michigan, onde o músico possui uma quase fama de herói local, principalmente por sua ex-banda, Saturday Looks Good To Me.

   Então, depois de lançar seu álbum mais bem-sucedido até o momento, uma certa dúvida pairava pela cabeça dos novos e dos já fiéis fãs (ou provavelmente só na minha mesma) do músico: que caminho ele poderia seguir agora? Changer chega com o peso de suceder seu melhor disco e serve como resposta para essa pergunta.

   Nesse álbum temos, novamente, seu estilo característico de contar histórias que beira o fluxo de consciência combinado a uma instrumentação que parece ter saído das mesmas seções de gravação de seu disco anterior, com uma notável preocupação em dividir o disco em duas partes, porém, sem ser radical. A primeira metade é mais focada em guitarras típicas do indie rock, e na segunda um certo flerte com sintetizadores e passagens que almejam a ambient music, mas que, por imposição de sua gravadora, tiveram de ser reduzidas basicamente a interludes. Segundo Fred Thomas, em uma entrevista a Stereogum, algumas dessas músicas beiravam os dez minutos, sendo que a versão original do disco tinha mais de uma hora, mas foi reduzido quase a metade (foi lançado com trinta e quatro minutos). Talvez por isso algumas dessas passagens pareçam desnecessárias. “Infuriated” serve como um belo outro para “Echoloation”, mas sua sucessora, “Oval Beach”, não acrescenta muito ao andamento do disco. Porém, há mais acertos do que falhas em Changer. Da primeira a última música Fred Thomas exala personalidade e carisma. Músicas como “Brickwall” e “Mallwalkers” são relatos envolventes e sinceros sobre crescer e lidar com as frustrações da vida adulta, já “Reactionary” e “August Rats, Young Sociopaths” exibem uma certa sensibilidade ao tratarem de temas e memórias mais melancólicas de sua vida.

   Changer pode e deve ser elogiado por sua qualidade narrativa, suas composições apaixonadas e por ser um trabalho sólido, com poucos deslizes em seu andamento, mas merece mérito, principalmente, por ser um passo a frente para um músico com mais de 15 anos de carreira. É com esse tempo de trajetória, ou até menos, que a maioria das bandas e artistas começam a apresentar sinais de desgaste. Mas com Fred Thomas o que vemos é exatamente o contrário, ele aparenta estar com mais fôlego do que nunca. Na mesma entrevista citada antes aqui, ele diz que está prestes a começar a gravar seu novo álbum, e adianta que vai ser algo totalmente diferente, e “a bit more expansive than anything I've done before”. Sabendo disso e tendo ouvido Changer, só posso esperar que com esse próximo projeto ele finalmente ganhe o reconhecimento tão merecido. Mas, até lá, estarei descobrindo todas as pérolas de sua discografia, e vocês também deveriam fazer o mesmo.


8/10.

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