Entrevista com Irmão Victor


Descobri Irmão Victor no ano passado, perambulando pelo youtube, indo de um vídeo recomendado para outro, quase sempre pulando para o próximo depois de poucos segundos. Foi assim que eu cheguei a um disco estranho, cuja capa, no mínimo curiosa, me intrigou. A primeira pergunta foi: de onde essa pessoa tirou essa imagem? Em que episódio bizarro de Os Simpsons a Lisa ficou careca e começou a fumar?! Porém, não tive muito tempo para processar esse pensamento, já havia sido visgado pela psicodelia lo-fi de Irmão Victor. Ouvi o disco todo entre risos e clamores de "isso é genial, meu deus!".

Menos de um ano depois, já em 2017, tive o prazer de sentir toda essa genialidade ao vivo, numa belíssima apresentação que contou até com coro de "mais um! mais um!" ao final. Passado alguns meses do show, perguntei ao Marco A. Benvegnu, o mentor do projeto, se ele toparia dar uma entrevista para o este humilde blog e ele aceitou. Eis, então, a entrevista, que é a primeira do blog.

Ruído Preto: Como foi o processo de gravação dos discos lançados no ano passado? Ambos possuem uma sonoridade parecida, porém soam bem diferentes em termos de produção, o homônimo soa bem lo-fi, já "Passos Simples" soa mais "profissional", digamos assim. Ao que se deve essa diferença?

Irmão Victor: Assim, quando eu comecei a gravar as músicas que acabaram formando o primeiro álbum eu não tinha nenhuma pretensão de formar um disco completo. Nem pensava que teria público nem nada, as primeiras músicas eram meio piada meio experimento. De forma que eu nem sabia mexer direito no programa que eu usava, não entendia de equalização nem mixagem nem nada. Fui fazendo bem nas coxas mesmo. Quando vi tinha uma dúzia de músicas e fechei o álbum daquele jeito mesmo. Já pro segundo eu resolvi trocar o programa que eu usava pra gravar - que era bem chinelão - e comprei uns equipamentos um pouco melhores para gravar.  Além disso, fui pegando umas manhas ao longo da gravação do primeiro CD, fui entendendo como deixar o som mais bonitinho e tal, daí o segundo ficou mais aceitável.

Ruído Preto: O espaço de tempo entre o lançamento dos discos foi bem curto. A mixagem do "Passos Simples" ficou por tua conta também?

Irmão Victor: O lançamento no YouTube foi próximo, mas a real é que eu demorei bastante entre o primeiro e o segundo. O primeiro eu tinha feito um cd físico mesmo, algumas cópias bem caseiras, mas demorei pra lançar no YouTube e tal. Então quando eu lancei o primeiro na internet o segundo já tava sendo feito.

Ruído Preto: Então a vibe lo-fi não foi uma escolha...

Irmão Victor: Foi lo-fi porque eu não sabia fazer de outro jeito. Se eu manjasse mais na época teria feito melhorzinho (risos).

Ruído Preto: (risos) Mas a diferença entre os dois discos nesse quesito é enorme, então acho que foi uma evolução bem grande da tua parte. Não que o primeiro disco seja inferior por ser lo-fi, é claro.

Irmão Victor: Cara, mudar de equipamentos e programa de gravação mudou muito a qualidade sonora. No "Passos Simples" tem duas músicas que foram gravadas da mesma maneira que as do primeiro, mesmos equips e programa, que são "Onde é que foi parar o Pedro Alcides" e "D.U.R.O.". Acho que da pra sentir a diferença delas do restante do álbum.

Ruído Preto: Dá mesmo, principalmente com "Onde é que foi parar com o Pedro Alcides".

Irmão Victor: Aham, pensando agora fico um pouco sentido com o fato se ela estar no "Passos Simples" e não no primeiro. Em contrapartida sinto que "Diógenes Basegio (A Rainha da Dança)" devia estar no segundo. Mas azar.

Ruído Preto: No meu primeiro contato com a tua música, através do primeiro disco, o que me cativou foi como tudo nele soava inesperado: a capa, as letras jocosas, o instrumental lo-fi... continuo tendo esse mesmo sentimento de surpresa a cada música que tu lança. Acho que o que eu quero dizer é que a tua música soa bastante original, sendo até difícil pensar em referências. Dito isso, quais são as tuas inspirações? O que o "Irmão Victor" escuta?

Irmão Victor: Olha, eu escuto muita coisa. Minha "formação" foi rock clássico, anos 50 60, toda aquela coisa. Mas hoje em dia eu escuto de tudo. Desde Noel Rosa a Quasimoto. Não me vejo como um "roqueiro". Essa palavra envelheceu tanto...

Ruído Preto: E como... esse rótulo já se tornou antiquado hoje em dia.
Irmão Victor é um projeto solo, certo? Pretende continuar assim?

Irmão Victor: Sim, é algo muito pessoal, não conseguiria compor com outras pessoas... Quero tentar umas parcerias, mas pra outros projetos.

Ruído Preto: Tens um projeto paralelo em mente então?

Irmão Victor: Aham. Acabar esse álbum novo e depois fazer algo diferente. Mas ainda não sei ao certo o que vai ser nem nada.

Ruído Preto: O álbum novo sai esse ano ainda?

Irmão Victor: É o plano. Espero que sim.

Ruído Preto: Tu já liberou várias músicas novas esse ano, todas elas estarão no novo disco?

Irmão Victor: Algumas... não sei se todas.

Ruído Preto: Tive o prazer de ver teu show na Casa Frasca e eu não era o único que tava bem empolgado ali. A resposta do público foi bem forte. Como estão sendo os shows?

Irmão Victor: Infelizmente quase não estamos tocando. Eu estou num processo de mudança em Floripa, assim como o baterista, o Duds. Então tá tudo meio precário, meio no ar. Não temos lugar pra ensaiar nem bateria aqui, sem falar que o Lucas, o guitarrista mora em Passo Fundo. Não conseguimos ensaiar faz um tempo ja. Mas espero que ano que vem a gente retome e faça mais shows. Esse de Poa foi o último, por sinal.

Ruído Preto: Ah, que triste isso. Eu já esperava um novo show esse ano e sei que todo mundo que esteve na Casa Frasca naquele dia também esperava, porque foi muito bom, de verdade.

Irmão Victor: Valeu!

Ruído Preto: Pra encerrar, quer deixar alguma recomendação? Algum disco favorito ou algo que tu tem curtido recentemente?

Irmão Victor: Hoje passei o dia pirando no Trout Mask Replica, do Captain Beefheart. Ele é meio indigesto nas primeiras vezes que tu escuta, mas eu amo esse álbum.

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