Melhores discos de 2016

Eu sempre adorei blogs de música, sejam os de resenhas ou aqueles que simplesmente se dedicam a compilar links de várias discos. E eu sempre quis ter um desses blogs. O ruído preto é a tentativa de realizar esse modesto sonho. Vou tentar mantê-lo sempre atualizado, escrevendo sobre discos novos, clássicos, novas descobertas, enfim, escrevendo sobre música. Para começar, minha lista de discos favoritos de 2016.

Todo mundo sabe que o 2016 foi uma merda e o que o mundo está se encaminhado para algo bem pior do que já está agora, mas... ainda há música. E enquanto houver música haverá pelo menos um pouquinho de esperança, ou, pelo menos, uma trilha sonora digna para o caos que está por vir.
Esses são meus discos favoritos de 2016, os que eu mais ouvi, os que mais me tocaram, os que tornaram esse ano um pouco melhor.


50. Warlord - Yung Lean


Esse álbum entrou na lista só para eu conseguir dormir em paz à noite. Não é um grande disco, mas ouvi tanto que me pareceu injusto não mencioná-lo. Gosto do quão dark o álbum soa se comparado aos outros trabalhos do Yung Lean. As músicas também possuem mais energia, principalmente por causa da excelente produção dos colaboradores já conhecidos de Lean: Yung Gud, Yung Sherman e whiteamor. É difícil defender para alguém que não gosta ou simplesmente nunca viu Yung Lean além do meme que ele se tornou de que esse é um álbum que merece uma audição. Mas, na minha opinião, é possível ver uma evolução notável desse disco para o Unknow Death 2002.

49. Imperial - Denzel Curry

2016 foi um ano e tanto para Denzel Cury. Após lançar seu segundo disco, o rapper foi escolhido pela XXL como um dos Freshmans do ano e ainda viu sua música e seu nome serem definitivamente lançados ao mainstream quando "Ultimate", música de seu EP duplo, de 2015, começou a ser usada quase como um novo "Turn Down For What" em vines e memes. O reconhecimento viria de qualquer forma através de seu talento, pois Imperial é um dos grandes discos de rap de 2016. Com uma produção afiada que aposta no trap sem soar clichê, o rapper destila seu flow veloz pelas 10 músicas do disco com uma energia que faz da audição de Imperial uma das mais empolgantes do ano.

48. Malibu - Anderson Paak


A revelação do ano. Depois de aparecer em Comptom, do Dr. Dre, Paak lançou Malibu, um dos álbuns mais comentados do ano. Foi um dos discos que mais ouvi na primeira metade do ano; músicas como "The Season/Cary Me" e "Parking Lot" não saíam dos meus fones de ouvido. É realmente um ótimo disco e merece todo hype que o cercou. Mesmo com algumas músicas que parecem desnecessárias para o andamento do disco como um todo, Paak. possui tanto carisma que, mesmo nessas músicas, é impossível ficar entediado. Malibu é uma bela mistura de rap, R&B e neo-soul, e acredito que deixou todos de olhos abertos para Anderson Paak. e ansiosos para ver quais serão seus próximos passos.

47. Too Much Of Life Is Mood - Scallops Hotel



Milo faz parte de um seleto grupo de rappers que conseguem manter um nível de qualidade sempre elevado a cada trabalho - e olha que desde que começou, em 2010, já são mais de dez projetos, entre EP's, álbuns e mixtapes. Too Much Of Life Is Mood difere de seus trabalhos anteriores por ser mais orientado pelos beats do que pelos vocais, funcionando quase como uma beat-tape em que o rapper, ocasionalmente, solta alguns versos. Em alguns momentos me faz pensar em Solace, do Earl Sweatshirt; várias passagens instrumentais, alguns samples aqui e ali e alguns versos de Milo espalhados pelo disco. Mas é claro que esse álbum não deve nada a trabalho algum. Too Much Of Life Is Mood tem a mesma vibe intimista de seus trabalhos anteriores e é mais um grande projeto na já excelente discografia do sempre promissor Milo.

46. In Summer - Jefre-Cantu Ledesma


Segundo Jefre-Cantu Ledesma, esse projeto poderia ser pensado como um catálogo de fotografias: pequenas fotos que capturam pessoas, momentos e lugares que o músico visitou em 2015. Esses sentimentos efêmeros que podem ser capturados em fotos são bem reproduzidos musicalmente em In Summer, um projeto repleto de texturas e camadas de som, mas que não deixa de parecer orgânico; vivo. Impossível ouvir "Love's Refrain" sem fechar os olhos e ser perder num mar de nostalgia.

45. MM3 - Metá Metá



Tive duas oportunidades de ver a Juçara Marçal ao vivo em 2016 e não vi. Se me sinto idiota por perder um show solo dela e outro do Metá Metá, uma das melhores bandas brasileiras da atualidade? Um pouco, só um pouco. Enfim... MM3 é mais um passo a frente para a banda que, agora, se rendeu ao jazz de uma vez por todas e anota mais um grande trabalho em sua discografia.

44. 32 Levels - Clams Casino


Um dos álbuns mais subestimados do ano. 32 Levels é praticamente tudo que eu poderia esperar de um projeto vindo do Clams Casino em 2016. A produção permanece afiadíssima e as participações muito bem escolhidas. Destaque para Vince Staples que, como sempre, destruiu em "All Nite". Minha única reclamação é sobre a falta de faixas solo, pois Clams Casino é mais do que capaz de fazer uma boa música sem precisar de um rapper. A prova disso é um dos momentos mais altos do disco ser a faixa "Blast”, que é instrumental. Ainda assim é um grande trabalho e os nomes escolhidos para as participações acrescentam muito a 32 Leves.

43. RTJ3 - Run The Jewels.

Esse talvez não seja um disco tão surpreendente, mas, ainda assim, é acima da média e possui todas as qualidades que fizeram os trabalhos anteriores do duo serem tão aclamados pela crítica: letras inteligentes que abordam temas sociais ao mesmo tempo em que abordam temas comuns do rap de uma maneira original. E a produção fantástica de El-P.

42. Os azuis que escorrem dos prédios irrigam girassóis do piche plantados com cuspe - Her


Os azuis que escorrem dos prédios (me recurso a escrever o nome inteiro do disco) é um projeto coletivo que conta com vários músicos de Sorocaba. Ao longo do álbum vários músicos assumem os vocais e as letras. A gravação meio lo-fi aliada aos vocais alternados criam uma vibe intimista, mas, ao mesmo tempo, convidativa, como se estivéssemos ouvindo uma jam session em seu estado mais primitivo e livre. “Alvorada” embalou muitas das minhas idas de casa até o trabalho. “Conseguimos dinheiro para comprar a liberdade/ Mas só podemos ter o que eles querem nos vender/ Engaiolados em restaurantes, shoppings e escolas.”

41. Princesa - Carne Doce


Carne Doce mostra-se muito à frente da maioria de seus contemporâneos brasileiros em Princesa, segundo registro da banda. Não que esse disco seja revolucionário ou qualquer coisa do gênero, mas Princesa passa longe dos modismos e das fórmulas prontas. E o principal: possui personalidade. Basta ouvir os vocais de Salma Jô em Cetapensâno, primeira faixa do disco, para ter uma prova disso. Também destaco as letras, que abordam temas importantes e atuais sem apelar para lugares comuns.

40. Kendo Dynamics - Pleasure Model



Deep house com influências do techno (ou vice-versa) da melhor qualidade. Para ouvir e dançar sentado. Recomendado para qualquer um que pira nos artistas da Lobster Theremin. "Like clubbing in Blade Runner" é a melhor definição para esse disco.

39. Curado - Hurtmold & Paulo Santos



Esses caras nunca erram. Incrível como ainda soam cheios de folego e mais originais que a maioria das bandas enquadradas no tal post-rock. A participação do Paulo Santos dá um ar experimental ao disco e renova o repertório do grupo. Provavelmente o melhor trabalho deles desde Mestro.

38. The Ship - Brian Eno



Eis que o pai da ambient music resolve nos abençoar com mais um pouco de sua genialidade. Mesmo com duas faixas de vinte minutos, o destaque do disco, para mim, é a belíssima transição de “Fickle Sun II” para o cover de "I'm Set Free", do Velvet Underground. Toda vez que ouço esse disco e esse momento chega, é pura magia.

37. Strangers - Marissa Nadler



Esse foi o primeiro disco da Marissa Nadler que ouvi e foi uma surpresa ótima. Strangers é confortável dentro de sua melancolia, o violão e a voz de Marissa Nadler conduzem o disco sem pressa, com momentos belos e paisagens nubladas. Uma bela introdução ao trabalho de Nadler. Sem dúvidas me deixou com vontade de conhecer o resto de sua discografia.

36. 22, A Million - Bon Iver



Se com esse disco Justin Vernon procurava distanciar-se de vez da imagem de artista "indie melancólico", sem dúvidas conseguiu. Repleto de experimentações eletrônicas que podem afastar alguns dos fãs de longa data do músico, as letras, sem dúvida, ainda possuem ecos de For Emma, Forever Ago em termos de carga emocional. 22, A Million é um disco corajoso para alguém com uma reputação já consolidada e, por isso mesmo, é tão necessário e bom.

35. Sirens - Nicolas Jaar



Quem imaginaria que um dia o mesmo Nicolas Jaar de Space Is Only Noise lançaria um disco político? Pois é. O que poderia ser um desastre, ou apenas um disco apelativo, acabou por ser um trabalho excelente. Mesmo com apenas seis faixas e pouco menos de quarenta minutos, Sirens cobre um terreno bastante extenso. Assuntos como xenofobia, crise dos refugiados, a ditadura chilena e aspectos da vida pessoal do músico permeiam pelas letras do disco. Tudo isso embalado pelas instrumentações versáteis e caprichadas que fizeram de Jaar um dos nomes mais comentados dos últimos anos nos círculos de música eletrônica. Se no fim da década de 70 os protestos eram embalados pelas guitarras sujas do punk, em 2016 o som do protesto é feito através de sinterizadores e softwares para criação de música. O futuro é agora.

34. Queda Livre - Jonathan Tadeu



Honesto e comovente, Queda Livre é uma pérola do tal “rock triste”. Jonathan Tadeu fez um registro dolorido de suas frustrações, medos e desilusões amorosas sem nunca perder a esperança em dias melhores. Basta ouvir “Amour” para ter um gosto disso. “Mesmo que eu nunca acorde desse sonho ruim/ Eu te amo até o fim/ Eu nunca vou desistir”.

33. BBF Hosted by DJ Escrow - Babyfather



Mais um projeto recheado de mistério lançado por Dean Blunt. Dessa vez, Dean apresenta um projeto de rap, ou algo próximo disso, comandado por Dj Escrow. Conhecendo Dean Blunt e seu repertório de pegadinhas com a imprensa é difícil não pensar que Escrow realmente existe e não é só uma invenção sua. De qualquer forma, Escrow é o centro e por onde o disco se forma. Passamos a simpatizar com esse personagem com o passar das músicas depois de ouvirmos alguns de seus relatos. Também há espaço para que Dean Blunt critique toda a cena de grime da Inglaterra, com suas letras óbvias e apelativas. BBF pode parecer um disco estranho e sem foco, uma audição menos esforçada, mas não é preciso muito para ser transportado para dentro de sua narrativa e não querer sair mais. Eu quero outro disco do Dj Escrow!

32. Who Really Cares - TV Girl



Uma das surpresas mais agradáveis do ano. Fui fisgado logo na primeira vez que ouvi “Taking What's Not Yours”, música que abre o disco. Who Really Cares é um disco curto onde as músicas raramente ultrapassam a marca dos três minutos, o que contribui para a qualidade do mesmo. Não há nenhuma música desnecessária, o disco flui de maneira leve e descontraída, embalado pelas batidas e samples (que, em alguns momentos, podem lembrar Avalanches) e a voz doce de Brad Petering. Um belo apanhado de canções pop inteligentes que desafiam a linha entre a tristeza, a nostalgia e o humor.

31. A Seat at the Table - Solange



Esse é o terceiro disco da carreira de Solange, mas parece ser o seu disco de estreia. Se em seus outros projetos as músicas pareciam comerciais e sem muita personalidade, nesse trabalho a produção é muito melhor, mais focada, com toques de R&B e neo-soul à la Erykah Babu e letras que abordam temas sérios, como os problemas raciais nos EUA e assuntos da vida pessoal da artista. Aqui, parece que Solange realmente encontrou sua voz e isso me deixa muito ansioso para o que ela pode lançar adiante.

30. Bottomless Pit - Death Grips
Esse disco me parece uma mistura dos sons de That Powers That B. Como se as guitarras de Jenny Death se unissem às experimentações sintéticas de Niggas On The Moon. Talvez por isso não surpreenda tanto, mas como não gostar da união de trabalhos tão bons? Bottomless Pit possui algumas das melhores músicas do grupo até agora e mostra que eles ainda possuem talento suficiente para criar mais.

29. In My Blood - Suffocate For Fuck Sake



Eu sempre achei que essa seria uma daquelas bandas de um disco só, aquelas bandas que depois de lançarem uma obra-prima percebem que nunca mais conseguiram criar algo melhor ou do mesmo nível e simplesmente param. Mas, para a minha felicidade, isso não aconteceu. Blazing Fires é um dos meus discos favoritos, então, quando vi uma música nova deles nos relacionados de alguma coisa qualquer no youtube e soube que eles lançaram um disco novo, fiquei receoso. Mas bastou-me ouvir "I am your god" para perder essa receosidade. Na mesma fórmula instrumental-seguindo-de-samples eles conseguiram fazer algo com identidade e que não soa como uma paródia barata do primeiro disco. In My Blood é um álbum incrível e que não deve nada a seu antecessor.

28. Vroom Vroom EP - Charlie XCX



Pensei em fazer uma lista separada para os EP's, mas acabei percebendo que não ouvi muitos EP's esse ano, então resolvi incluir os poucos que eu ouvi e gostei aqui. Esse da Charlie XCX foi um dos que eu mais gostei em 2016. Bem distante dos trabalhos mais indies da cantora, em Vroom Vroom ela se arrisca mais e faz seu melhor trabalho até então. As músicas são parcerias com o produtor Sophie, uma das mentes por trás da PC Music. Seu na produção é o que realmente torna esse EP tão bom, mas Charlie XCX cumpre seu papel, soando com mais personalidade do que nunca. Fico ansioso para saber quais caminhos ela trilhará depois desse trabalho.

27. Irmão Victor - Irmão Victor



A maior descoberta do ano. Lembro direitinho de como ouvi Irmão Victor pela primeira vez: estava ouvindo home (ouçam também!) quando vi esse disco nos relacionados. Com uma capa dessas eu tive que clicar e conferir o que era isso. Foi amor à primeira vista, por assim dizer. As letras me faziam rir e mesmo assim eu não conseguia parar de pensar no quão bem-feito esse disco era. A cada detalhe eu tinha mais a impressão de que seria um disco que eu ouviria muito. E foi. A gravação lo-fi unida das letras extremamente bem-humoradas fazem desse álbum umas das audições mais prazerosas do ano.

26. Untitled Unmastered - Kendrick Lamar




Depois de lançar um dos álbuns mais aclamados da década, ninguém esperava ouvir algo novo do Kendrick tão cedo. Mas eis que ele soltou esse Untitled Unmastered que contém várias músicas que não entraram em TPAB, basicamente o que alguns chamariam de “sobras”. Mas que sobras! As músicas são tão boas nesse formato cru que quase não pensamos em como elas ficariam se fossem “terminadas”.

25. Barriga de 7 Janta - Meno



Barriga de 7 Janta conta a história de Dico, primo do músico que virou andarilho depois de uma desilusão amorosa. Dico, o andarilho, perdeu-se de amor por Sabrina e viu o mundo girar. Mas, depois de descobrir uma traição, perdeu sua inocência, sua paixão e sua identidade. Então, sem ter mais nada, decide virar andarilho. Delicado, como tinha de ser, Barriga de 7 Janta encanta pela sensibilidade e beleza. Impossível não ser transportado para a sua narrativa e não sofrer as dores de Dico.

24. Sleep Cycle - Deakin



Se o disco do Animal Collective passou meio que despercebido pelo ano de 2016, Deakin não deixou ninguém indiferente com Sleep Cycle. Com uma instrumentação rica em texturas e vocais trabalhados em camadas, esse disco cria uma atmosfera aconchegante e afável onde as letras guiam o ouvinte em uma viagem por um mundo de cores e paisagens calmas e belas.

23. The Gospel - Arabrot



Inquietante desde a primeira música, The Gospel é um álbum pesado e que não tem medo de experimentar e de apostar nas sutilezas. Gravado após o vocalista descobrir um câncer de garganta maligno, esse disco é sobre uma guerra pessoal, segundo o próprio; como afundar no oceano e voltar à superfície. E, ao voltar, você está com fome, fome de vida e de tudo que ela tem a oferecer. Nesse disco vamos até o inferno e voltamos, mas, ao voltar, não somos os mesmos, pois "The man who has been in hell, never forget".

22. Preoccupations - Preoccupations



Fazer post-punk em 2016 sem soar como uma simples cópia das bandas lendárias dos anos 80 pode parecer uma tarefa difícil, mas Preoccupations mostra que ainda há territórios a serem explorados. Depois de lançarem um dos registros mais aclamados de 2015, a banda retorna com um novo nome e a mesma levada inspiradora do disco anterior. Músicas que remetem a referências mas não prendem-se somente a isso, que possuem identidade própria e não caem nos clichês do gênero.

21. Third Law - Roly Porter




Third Law incorpora elementos de música clássica contemporânea, drone, noise e música ambiente para criar paisagens densas, mas, ao mesmo tempo, contemplativas. “4101”, música que abre o disco, sustenta-se até o fim baseada no confronto entre vocais submersos e sintetizadores barulhentos. Já “Mass” remete às experimentações mais bem sucedidas de A U R O R A, de Ben Frost. Começando com uma parede de som barulhenta, a faixa progride para um baixo ensurdecedor crescente que culmina em um momento de puro êxtase ao unir vocais sampleados e repetidos à uma camada de sintetizadores nebulosos. Third Law é desafiador e impenetrável no mesmo nível em que é recompensante.

20. Chth'eillist - Le Dernier Crepuscule



Sou leigo quando o assunto é death metal, mas quando um álbum é bom não é preciso de nada além de uma audição para reconhecer seus méritos. E foi assim com esse disco. Le Dernier Crepuscule me cativou desde o início por sua atmosfera densa, unindo o death metal técnico de Demilich a sintetizadores que remetem a Summoning e que encorpam as músicas com um senso de épico. Um dos discos mais sólidos do ano. Não há um momento que deixe a desejar durante seus 53 minutos.

19. Prima Donna - Vince Staples



Se Summertime peca por ser desnecessariamente longo, nesse EP não há espaço para fillers. Prima Donna é Vince Staples no seu melhor. Cada música aqui é lapidada até a quase perfeição, seja na produção, que conta com nomes de peso como James Blake e No ID, ou nos versos repletos de energia de Vince. Sem dúvidas seu melhor trabalho até então. Prima Donna coloca definitivamente Vince Staples ente os principais nomes do rap de sua geração e deixa todos seus fãs ansiando pelo próximo trabalho.

18. The Life Of Pablo - Kanye West



Enquanto a ideia de TLOP é ser um dico em movimento, aberto às mudanças que seu criador desejar impor a qualquer momento, possa parecer interessante, é difícil levar isso a sério se considerarmos o quão insignificantes as mudanças feitas por Kanye West foram. Há muita imperfeição nesse disco, muito a se melhorar, mas nada disso importa. Esse disco é inconsistente, sim, sem dúvidas, mas também me parece o disco mais Kanye West de todos os tempos. Há marcas da arrogância e da babaquice do rapper por todo o álbum, mas também há marcas de sua autointitulada genialidade, como na bela Ultralight Beam, dominada pela participação de Chance The Rapper, ou na psicótica Feedback, onde Kanye se descreve sob o efeito de drogas, vendo uma versão distorcida da realidade. Kanye soa como um louco nessa música e a batida cínica acentua isso, causando a sensação de que estamos realmente perto de ver a letra se realizando (What if we fuck right now?/ What if we fucked right in the middle/ Of this mothafuckin' dinner table?). A parceria com The Wekend em FML é outro grande momento. A música mais “correta” do disco possui começo, meio e fim, mas surpreende em sua escalada até o êxtase dos últimos minutos. Momentos brilhantes não faltam nesse disco, portanto não é preciso julgá-lo por teorias baratas (ligações com Picasso ou Escobar) e a falsa inovação pregada por Kanye West.

17. The Wildflower - The Avalanches



Discos de retorno podem ser armadilhas certeiras para arruinar a imagem de uma boa banda. Mas esse não é o caso. Entre a jovial "Because I'm Me" até a agridoce "Saturday Night Inside Out" os caras dão uma aula de como fazer música com alma, que toca e mexe com os nossos sentimentos sem nunca apostar em sentimentalismo barato. Os vocais providenciados pelos colaboradores escolhidos pelo grupo (Danny Brown, MF Doom, Jonathan Donahue, Father John Misty, entre outros) se misturam às músicas de maneira inteligente e inventiva como se fossem samples retirados de um disco empoeirado qualquer. Descrito pelo grupo como uma road trip infusa por LSD a algum lugar remoto e distante, o disco é mais que isso. É uma celebração de amor à música. Quem mais uniria literalmente milhares de samples em um disco senão um grupo de amantes de música?

16. You're Welcome Here - Vanessa Amara



A união perfeita entre a música eletrônica contemplativa e a música clássica contemporânea. You're Welcome Here é um dos discos mais belos que eu ouvi no ano. A música feita pelo duo dinamarquês formado por Birk Gjerlufsen Nielsen e Victor Kjellerup Juhl parece sair de uma igreja abandonada e é capaz de emocionar e mover até às lágrimas, segurando até o ouvinte mais apressado desde os primeiros acordes de órgão da primeira música do disco.

15. Memory Care Unit - Secret Boyfriend



Não há espaço para luz no universo criado por Ryan Martin em Memory Care Unit. O álbum caminha devagar por paisagens escuras e claustrofóbicas, sem nunca perder o foco e mantendo uma atmosfera sufocante do começo ao fim. Uma das audições mais obscuras do ano, também é um dos discos mais estranhamente cativantes de 2016. Eu sempre estarei disposto a fechar os olhos e me perder nele.

14. Voices - Wormorot



Ouvi esse disco enquanto fazia minha lista de melhores do ano, no dia 31 de dezembro. Antes mesmo de acabar eu já sabia que ele entraria na lista. Com as audições que se seguiram só comprovei o quão brilhante esse álbum é. Grindcore implacável que quase supera influências e aposta em passagens melódicas que remetem a Converge. Para ouvir uma, duas, três… quinhentas vezes seguidas sem enjoar!

13. The Synarchy Of Molten Bones - Deathspell Omega



O álbum mais complexo da banda que redefiniu o black metal nos anos 2000 justamente por apostar em ritmos complexos que fugiam das características pré-definidas do gênero, e por elevar a estética do estilo ao nível de arte. O que pode ser um presente melhor que esse para um fã da banda? Numa audição menos atenta é quase impossível fazer sentido da loucura abismal desse disco, aas é exatamente isso que o torna tão brilhante. Há sempre um “novo” detalhe para ser descoberto em cada audição. É cedo para dizer e entender completamente esse trabalho, mas The Synarchy Of Molten Bones tem potencial de entrar para história como o disco definitivo de Deathspell Omega.

12. Running Out Of Love - The Radio Dept




Donos de uma discografia invejável, os suecos adicionaram mais um grande trabalho ao repertório em 2016, seis anos depois de lançarem seu último álbum. Atrasado por uma batalha judicial com a gravadora Labrador e inspirado pela vida na Suécia em 2016, Running Out Of Love aposta no uso predominante dos sintetizadores e deixa as guitarras um pouco de lado. Há momentos em que a influência oitentista de grupos como Pet Shop Boys se mostra mais aparente do que nunca, como na dançante "We Got Game", mas também há espaço para momentos sonhadores e belos, como em "Commited to the Cause", um dos pontos altos do disco. Mesmo depois de quase vinte anos a banda não perdeu a magia e o talento que fez com que a música deles saísse da Suécia para embalar momentos belos na vida de pessoas no mundo todo.

11. A Moon Shaped Pool - Radiohead




Depois do irregular The King Of Limbs, Radiohead abandona as experimentações eletrônicas e volta às guitarras e às orquestrações características da banda. Cinco das onze músicas já circulavam pelo repertório da banda e ganham aqui uma gravação digna e uma nova vida. Como na já popular entre os fãs "True Love Waits", que ganha ares de "Videotape". A orquestração de Jonny Greenwood é um dos pontos altos do disco e dá o peso emocional necessário para que as músicas desenvolvam-se. A Moon Shaped Pool encanta pelo mesmo motivo que, desde o começo, conquistou fãs pelo mundo todo: a tristeza contida na voz de Thom Yorke e a inegável capacidade do grupo em criar paisagens distantes e melancólicas. Um belo presente para qualquer fã de longa data da banda.

10. For Those Of You Who Have Never (And Also Those Who Have) - Huerco S.



Em ano tão conturbado quanto 2016 a música, como sempre, foi a minha válvula de escape para todos os problemas do dia a dia e para todas as notícias terríveis que eu lia constantemente. For Those Of You... foi um dos meus refúgios favoritos nesse ano terrível. Muitas vezes eu corri para ele, fechei meus olhos e esqueci de tudo por alguns minutos. A ambientação calorosa e calma do disco remetem a figuras como Gas, soando como uma extensão natural do techno ambient iniciado nos anos 90 sem nunca cair em clichês.

9. Atrocity Exhibition – Danny Brown



"Staring in the devil face/But ya can't stop laughing" diz Danny Brown em "Ain't It Funny", sexta faixa de Atrocity Exibiton. Essa linha define muito bem experiência de ouvir Atrocity Exibition: entramos no inferno pessoal do rapper, viajamos por esse mundo assustador repleto de luxúria, embalado por sexo e drogas, uma festa que parece nunca ter fim, mas que, apesar disso, nunca é vista com glamour, mas sim com um senso de realidade chocante. O incrível é que, por mais decadente que esse mundo possa parecer, é impossível não querer reviver tudo isso ao término do disco. Rimos na cara do diabo com Danny Brown. O disco mais sombrio e psicodélico de 2016 não veio de nenhuma banda de rock ou de alguns dos vários nichos da música eletrônica, mas sim de um rapper que, como ninguém, soube absorver a evolução constante do rap e de seus contemporâneos. Experimental ou apenas como um bom disco de rap deveria soar em 2016, Atrocity Exibtion é a obra-prima de Danny Brown até então.

7. We Got It From Here - A Tribe Called Quest



Quase vinte anos depois de "The Love Movement", Tribe retorna com um disco atual e que deixa a impressão de que eles nunca partiram. Mesmo que o som dos clássicos do coletivo apareçam aqui, nunca é com saudosismo, e sim como uma continuação lógica dos caminhos trilhados pelo grupo nos anos 90. Phife Dawg vive através desse disco, mesmo tendo morrido oito meses antes de seu lançamento. Impossível não se emocionar ao ouvir a voz do "Five Foot Assassin" pela primeira vez, ou na linda homenagem prestada por Q-Tip em "Black Spasmodic". We Got It From Here prova porquê o grupo é lembrado até hoje como um dos maiores acontecimentos na história do rap.

8. Passos Simples Para Transformar Gelatina Em Um Monstro - Irmão Victor



Um dos meus objetivos de vida em 2017 é ver um show do Irmão Victor. Dois grandes discos em um ano não é uma façanha para qualquer um. Este aqui é mais refinado em termos de gravação, mas tem todas as qualidades do primeiro: as letras bem-humoradas continuam aqui, talvez até melhores do que as do trabalho anterior e a instrumentação ganha um peso maior, sendo mais trabalhada e soando um pouco mais experimental. Incrível como músicas que começam de maneira ingênua e até bobinhas terminam com você olhando para parede e pensando: “é, eu tô ficando velho”. Exemplo disso é a excelente “Vamos dar uma volta” que começa com Marco falando “Ouvi dizer que teu cachorro não te cumprimenta mais” e termina sendo uma das músicas mais reflexivas do disco, um estudo criativo sobre crescer e ver tudo mudar ao seu redor, mas algumas coisas continuam as mesmas. A cidade nova ainda é nova, vamos dar volta.

6. Autoerotik - Tollund Men



Tudo em Autoerotik parece tão alto, tão in your face, que é quase como se estivéssemos ouvindo a banda tocar ao vivo. O peso que a gravação lo-fi e saturada dá às músicas é incrível. O som da banda é uma mistura de genêros como post-punk, synt-pop e música industrial. Em 2013 provavelmente seria categorizado como darkwave, mas esse disco não procura aliar-se a nenhum novo gênero da moda; procura buscar novos sons, novas maneiras de fazer música obscura e densa. Autoerotik é um disco fascinante, repleto de texturas e camadas de som intermináveis. Poucas bandas conseguiram, nesta década, criar um trabalho tão intenso e original partindo de gêneros que parecem cada vez mais ultrapassados.

5. The Spiral - Puce Mary


Outro trabalho que aposta na reinvenção de fórmulas antigas é o de Puce Mary em The Spiral. Seu trabalho mais bem acabado até então incorpora elementos de noise e power eletronics unidos a vocais e samples abafados para criar uma ambientação densa e obscura. Dessa vez com um instinto de narrativa mais presente de que em seus trabalhos anteriores, The Spiral é focado e sólido do início ao fim sem nunca perder a agressividade característica dos gêneros que o inspiram. Impossível sair ileso das gigantescas paredes de som desse disco.

4. Lado Turvo, Lugares Inquietos - maquinas



Em seu debut, maquinas prova que é possível usar de inspirações para criar um trabalho que emana personalidade. Lado Turvo, Lugares Inquietos é ambientado nos sons alternativos dos anos 90 e do começo dos anos 2000 como o post-rock, o slowcore e o shoegaze. Bandas como Mogwai e Unwound parecem inspirações óbvias, basta ouvir o crescendo em "Zolpidem" para lembrarmos dos momentos mais grandiosos dos escoceses em Come On Die Young. Já "Drive By" parece uma referência direta à "October All Over", de Unwound. Mas, apesar de usar suas referências como ponto de partida, a banda não se limita a isso. Longe das formulações óbvias do post-rock, a banda usa elementos do gênero para criar não somente um álbum, mas uma experiência única. Ouvir esse disco é mergulhar em instrumentais cheios de ruídos e texturas e letras que abordam temas como arrependimentos e desilusões amorosas de maneira sincera. Uma obra-prima do post-rock brasileiro que merece estar ao lado de grandes álbuns lançados no gênero nos últimos anos.

3. Blackstar - David Bowie



Não há muito a dizer sobre esse álbum que já não tenha sido dito. Basta falar que já faz mais de um ano que Bowie morreu e ainda não pode-se dizer que o impacto deixado por sua morte e por Blackstar foi superado. Ainda não consigo ouvir Blackstar sem ter arrepios.

2. Elseq 1-5. - Autechre




Apesar de ter quase cinco horas, Elseq 1-5 não é mais desafiador do que qualquer um dos álbuns mais recentes do duo. Talvez a duração pareça algo pretensioso e tenha afastado alguns ouvintes mais ressabiados, mas a experiência de ouvir esse disco é recompensadora para qualquer um que tenha a mente um pouquinho mais aberta. A música criada pelo duo britânico é dinâmica e, apesar de parecer abstrata, possui bastante variação e proporciona uma experiência divertida (sim!). Segundo os próprios músicos, seus trabalhos só podem ser considerados abstratos para alguém que ouve música pop. Qualquer um com o mínimo interesse em música encontra nos trabalhos de Autechre uma música que ultrapassa as categorizações e, acima de tudo, tem qualidade e consistência. Não existe nada mais recompensador do que um álbum que sempre tem algo novo a oferecer a cada audição. E, nesse quesito, ninguém supera Autechre.

1. Blond – Frank Ocean


Em minha primeira audição eu jamais poderia imaginar que esse álbum acabaria como o meu favorito do ano. Não gostei dele na primeira vez que ouvi; havia algo faltando, mas eu não conseguia adivinhar o quê. Lógico que não, pois não há nada faltando aqui, apenas subestimei Frank Ocean. Jamais poderia adivinhar, mesmo depois do excelente Channel Orange, que ele lançaria algo tão profundo (eu detesto essa palavra, mas aqui ela parece fazer sentido). Blond exige muito mais atenção de seus ouvintes, qualquer um que não optar por se deixar levar pelo disco perderá uma das audições mais ricas do ano. Se Channel Orange, em alguns momentos, parece polido demais, Blond consegue passar longe de ser um disco exagerado, mesmo ao encorporar mais elementos a sua paleta de sons (guitarras, passagens de folk, rap, samples, backing vocals de nomes como Beyoncé entre outras esquisitices). A produção aqui atinge o balanço perfeito de um disco refinado, mas que possui alma e sinceridade. Frank Ocean não fez um disco pop tanto quanto se apropriou da música pop para fazer algo totalmente seu. Sem batidas ou qualquer tipo de percussão na maioria das músicas, em Blond predominam as guitarras, as passagens de folk, as experimentações com sinterizadores e samples e, acima de tudo, o protagonismo inegável de Frank Ocean, impulsionado por sua bela voz. Sem dúvidas o seu melhor trabalho até então, Blond mostra um artista em evolução e com talento para ir ainda mais longe.



**revisado por Amanda S.

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