Melhores lançamentos de 2017 até agora



Manter um blog ativo é bem mais trabalhoso do que eu pensava, mas continuo tentando. Eu tinha a intenção de postar esta lista no mês passado, mas ela só foi finalizada agora. Um pouco tarde pra uma lista dessas, mas como estou sempre atrasado pra tudo, não há nada realmente fora do normal no fato dela só ter saído agora. Enfim, estes são os meus discos favoritos do ano até então (por enquanto sem nenhum tipo de ordem):



bedwetter - volume 1: flick your tongue against your teeth and describe the present.
(9/10)

O disco do ano até agora. Nada soou tão agressivo, intenso e vivo como esse álbum. (Leia a resenha completa dele aqui.)

Fred Thomas - Changer
(8/10



"Changer pode e deve ser elogiado por sua qualidade narrativa, suas composições apaixonadas e por ser um trabalho sólido, com poucos deslizes em seu andamento, mas merece mérito, principalmente, por ser um passo a frente para um músico com mais de 15 anos de carreira. É com esse tempo de trajetória, ou até menos, que a maioria das bandas e artistas começam a apresentar sinais de desgaste. Mas com Fred Thomas o que vemos é exatamente o contrário, ele aparenta estar com mais fôlego do que nunca." (Leia a resenha completa aqui)

Kendrick Lamar - Damn 
(8/10)



Mesmo com uma sonoridade menos experimental e sem o foco no jazz, Kendrick conseguiu criar um sucessor digno para To Pimp A Buterfly, o que por si só já um façanha grandiosa. Não foram poucos os rappers que falharam ao tentar ultrapassar seus discos mais aclamados. Mas essa não parece ser a intenção de Kendrick com Damn. Se com TPAB sua intenção era realmente ultrapassar seu disco anterior, ou pelo menos criar um trabalho mais sério, aqui, já consolidado como o maior rapper de sua geração, K. Dot parece desfrutar de sua fama para criar um álbum com uma sonoridade mais acessível, recheado de bangers, mas sem deixar a desejar em nada. Longe de ter relaxado, Kendrick entrega mais um trabalho apaixonado e forte.

Jé Santiago - Jé Santiago EP 
(7/10)



EP bastante versátil em que Jé Santiago brinca com as variações do R&B, passeando pelo neo-soul em "Tanto Faz" para logo depois apostar na fusão com o trap em "Flow Djavan", tudo isso com muito estilo e personalidade. Uma das revelações do ano, sem dúvidas.

Slowdive - Slowdive 
(7.5)



Sempre vejo esses "comebacks" com receio e desconfiança. O risco de adicionar um disco descartável a uma discografia já consolidada é sempre real, mas às vezes esse risco vale a pena. O retorno de Slowdive, uma das bandas definitivas do shoegaze, é um exemplo disso. Embora não aposte em sonoridades novas, o álbum mostra a banda no seu melhor, fazendo o que sabem fazer com um nível de qualidade assustador para uma banda que estava há mais de vinte anos sem lançar um trabalho oficial.

Jonathan Tadeu - Filho do Meio 
(7/10)



Produzido em parceria com João Carvalho (El Toro Fuerte/Rio Sem Nome/Sentidor) Filho do Meio aposta nas programações eletrônicas e soa levemente mais aventureiro que seu disco anterior. Embora os meios de produção de sua música tenham mudado - das guitarras ao laptop - a fonte de inspiração de Jonathan para compor parece ser a mesma: pequenas cenas cotidianas retratadas com simplicidade e beleza. A essência da música de Jonathan Tadeu permanece a mesma, sua música tão melancólica e bela como seu rock triste em Queda Livre, de 2016.

V.A. - Pop Makossa - The Invasive Dance Beat of Cameroon 
(9/10)



Qualquer lançamento vindo da Analog Africa é ouro puro na certa. Todos os trabalhos lançados pela gravadora são frutos de pesquisas intensas que sempre resultam em discos primorosos, verdadeiros achados que se não fosse pelo esforço e dedicação de gente como Samy Bed Redjed, um dos fundadores do selo, permaneceriam na obscuridade para sempre. Essa compilação é mais uma pérola da Analog Africa. Com 12 músicas intocáveis, a compilação passeia pelo funk, o disco e a música pop camaronesa, por vezes soando como uma mistura de tudo isso.

Amnesia Scanner - As Truth 
(8/10)




Com apenas 15 minutos o duo consegue cobrir um território enorme sem deixar a desejar. Seja em seus momentos mais "calmos" ou em terras mais densas, a música oferecida por Amensia Scanner é sempre empolgante e hipnótica. Sem dúvidas um dos atos mais interessantes no cenário da música eletrônica experimental atualmente.

The Pablo Collective - The Death Of Pablo 
(8/10)



Ao recriar The Life Of Pablo o coletivo alcança níveis de experimentações nunca alcançados nem pelo próprio Ye e oferece uma visão interessante da psiquê do artista. Ouvir The Death Of Pablo é como entrar de cabeça na paranoia e na loucura de Kanye West.

Shinichi Atobe - From the Heart, It's A Start, A Work Of Art 
(8.5/10)



Quase um outsider da música eletrônica, o trabalho de Shinichi está sendo descoberto aos poucos. Pouco se sabe sobre o músico, até 2014 tudo o que ele havia lançado era um EP, datado do ano 2001, que logo se tornou um mini clássico, daqueles discos que são vendidos a preços exorbitantes no Discogs. Há até suspeitas que esse seja só o pseudônimo de algum artista famoso querendo se infiltrar no underground. Sabendo disso e sem conhecer a música de Shinichi, o que se espera é algo um pouco estranho, meio torto, não é mesmo? Porém, o que produtor nos oferece são paisagens belíssimas, de uma paciência e tranquilidade inigualáveis. Desde o lançamento de The Butterfly Effect que ele vem lançado trabalhos novos com regularidade e espero que isso continue, é sempre um prazer ser agraciado com um disco novo de Shinichi Atobe.

Do Make Say Think - Stubborn Persistent Illusions 
(7.5/10)



Primeiro disco da banda em oito (longos) anos, Sturbborn Persistent Ilusions mostra uma banda revigorada e que ainda mantém sua magia. Numa audição um pouco despreparada o disco pode soar imediatista demais, porém, com o tempo e repetidas audições, percebi que não havia muito o que não gostar nesse disco. Todas as características que colocaram a banda entre os nomes respeitáveis do post-rock continuam aqui, basta ouvir um dos destaques do disco, a excelente "Horripilation", para ter um gosto do que estou falando. Com uma paleta de sons já clássica, a banda consegue inovar e criar um composição belíssima, unido passagens calmas a outras um tanto caóticas sem nunca apelar para crescendos intermináveis e chatos. Em meio a um mar de falta de originalidade no qual a maioria das bandas de post-rock mergulharam, é extremamente satisfatório ouvir uma banda como Do Make Say Think.

Vanessa Amara - Like All Mornings 
(9/10)



Ao mesmo tempo o trabalho mais minimalista e longo do duo até então, Like All Mornings é de uma beleza dolorida capaz de induzir até o ouvinte mais desatento à introspecção e à melancolia. Este é sem dúvidas o disco de maior carga emocional do ano até agora; é simplesmente impossível sair ileso de sua audição.


Djonga - Heresia 
(7/10)


Há tempos não surgia um MC com tanto sangue no zóio quanto Djonga no rap nacional. Repleto de sacadas inteligentes e versos afiados, Djonga mostra que não veio para brincar logo na primeira música: "Me sinto Scar, cercado de idiotas/ Tenho reinado como Simba, demais pro seu quintal, prospero", ele versa, para logo depois, na terceira música, largar uma das melhores linhas do ano: "Eles tem glock até o dente/ Mas até hoje não aprendeu qual lado descarrega o pente". O disco fica mais suave na outra metade, mas segue em grande nível na maioria das músicas, deixando a desejar somente em alguns dos beats. Porém, de qualquer forma, Heresia é um grande disco de estréia e merece toda atenção que vem recebendo. Um dos grandes prazeres do ano foi presenciar um show do Djonga ao lado de ninguém menos que o Bk'.

Arca - Arca 
(7.5/10)



Ao usar de sua voz como mais um instrumento de sua paleta de sons, Arca criou um disco de extremos: temos aqui suas músicas mais soturnas e pesadas, mas também temos seus momentos mais festivos até então, como na irresistível "Desafio". Sempre original, Arca acrescenta mais um disco excelente a sua discografia e se consolida como um dos nomes mais criativos da música eletrônica atual, principalmente por sua versatilidade e destreza ao estar sempre incorporando novos elementos a sua música.

Rincon Sapiência - Galanga Livre 
(8.5/10)



Um dos álbuns mais aguardados do ano, Galanga Livre não decepciona. Rincon fez um disco de uma maturidade incrível, com uma produção impecável e conteúdo lírico forte, com um foco grande na cultura e resistência afro-brasileira. Em meio a comercialização de problemas sociais vivida atualmente no Brasil, onde a importância temática tem sido confundida com qualidade artística, é bom ver alguém que consegue debater assuntos sérios sem soar pedante. Abro mais um parenteses para falar novamente da produção do disco: este é, sem exageros, um dos discos mais bem produzidos que eu já ouvi no rap brasileiro.  As guitarras "czarfacianas" de "Crime Bárbaro" e "Vida Longa" soam incríveis aliadas ao flow suave de Rincon. Ainda há as brasileiríssimas "Meu Bloco", que mistura uma precursão típica das grandes escolas de samba aos metais exagerados do trap, e a já clássica "Ponta de Lança", que aposta numa batida típica do funk carioca/paulista misturadas com sintetizadores modernos e um baixo pesado.

Criolo - Espiral de Ilusão 
(7/10)



Fruto de um desejo antigo do Criolo de fazer um disco de samba, Espiral de Ilusão talvez decepcione aqueles que ainda esperam por um Nó Na Orelha 2.0, mas certamente será uma surpresa agradável para qualquer um que aceite ouvir o disco de mente aberta e sem se prender a pré-conceitos sem sentido. Longe de querer agradar a crítica, Criolo parece se importar mais em homenagear com respeito e qualidade seus ídolos no samba, e isso ele fez com maestria neste trabalho.

Vince Staples - Big Fish Theory 
(8/10)



Ah... nada melhor do que ouvir os primeiros segundos de um disco e ter a confiança de que uma bela jornada está prestes a começar, não é mesmo? Confesso que não era isso que eu esperava de Big Fish Theory, segundo disco do Vince Staples. Os dois primeiros singles haviam causado uma boa impressão, mas então veio a fraquíssima "Rain Come Down" e apareceu um pequeno medo de que esse disco talvez viesse a sofrer da mesma falta de criatividade de Summertime '06 em sua produção. Mas... como é bom estar errado e ser surpreendido! "Crabs In A Bucket" é provavelmente a intro mais excitante que ouvi desde "I Break Mirrors With My Face In the USA" do tão aguardado Jenny Death, do Death Grips. Esse é o sucessor perfeito para Prima Donna e, sem dúvidas, um disco superior ao seu promissor, mas cansativo, disco de estréia. Vince se distancia da maioria de seus contemporâneos por apostar em sonoridades ainda pouco exploradas no rap americano: temos aqui uma produção focada na dance music, genericamente falando, com influências de house, uk garage, footwork e até mesmo um pouco da música pop experimental da Pc Music em "Yeah Right", tudo isso aliado às letras cínicas e secas de Vince, que aqui corrige todos os erros de seu disco de estréia. O melhor disco de sua carreira e sem dúvidas um dos discos mais interessantes do ano.

Laurel Halo - Dust 
(8.5/10)


Dust é um retorno para Laurel Halo e, ao mesmo tempo, um passo a frente. Para felicidade de uma grande parcela de seus fãs, ela voltou a cantar em suas músicas. Apesar de que a palavra "cantar" não faz muita justiça ao trabalho vocal de Halo. O que ela faz é mais do que cantar: é desconstruir sua voz e reconstruí-la de novo para assim gerar algo novo. Tão experimental quanto seu último trabalho, Dust é um disco agradável de se ouvir quase na mesma proporção em que é uma experiência que exige atenção redobrada; o maior triunfo do disco são suas texturas e detalhes que podem passar despercebidos por ouvidos não atentos.

gorduratrans - paroxismos 
(9/10)


Basta dar uma olhada na tracklist de Paroxismos e prestar um pouco de atenção nos títulos de algumas músicas para termos a noção de que esse é um disco mais pesado do que seu antecessor. Se em "Confusão", música que abre o primeiro disco da banda, ouvimos o relato de uma relação desgastada e próxima do fim, logo nos primeiros momentos de "7 Segundos", música introdutória de Paroxismos, Luiz Felipe mostra que aqui a esperança já morreu e grita a plenos pulmões: "eu quero a solidão/ e só assim que me encontro por dentro". Mais do que letras secas e melancólicas, a banda oferece um instrumental que é de uma densidade quase impenetrável; barulhento e pesado, durante todo o curso do disco a única trégua se encontra na bela e acústica "Outra Vez", que mesmo sendo uma faixa triste, aparece como um raio de sol no meio da tempestade que esse disco é. Paroxismos tem tudo para ser lembrado como uma pérola do underground brasileiro; não me espantaria ver esse disco sendo lembrado daqui uns 10 anos com a mesma importância de Servil, o lendário disco de estréia da Ludovic.

Actress - AZD 
(8.5/10)


Quase esqueci de incluir esse disco aqui, o que seria uma grande injustiça, já que ele foi um dos que mais ouvi esse ano. Muito disso se deve a sua solidez. Posso colocar em qualquer faixa do disco, ou simplesmente deixar o modo aleatório me guiar e ter certeza de que ainda assim ouvirei uma música incrível. AZD é praticamente intocável; com 12 músicas e quase uma hora de duração, Darren consegue manter o nível do disco sempre altíssimo, sendo esse talvez o seu melhor trabalho até então.

(Sandy) Alex G - Rocket
(8.5/10)



Repleto de grandes momentos, Rocket passeia por sonoridades distintas em seus pouco mais de quarenta minutos, indo da inspiração country na melosa "Bobby", chegando ao R&B experimental em "Sportstar", claramente inspirado pela sua participação no excelente "Blond" de Frank Ocean, chegando até a barulhenta e caótica "Brick". Facilmente seu melhor e mais bem produzido trabalho até então, Rocket é um disco que soa íntimo e ao mesmo tempo extravagante se comparado a simplicidade do bedroom pop feito por Alex G em seus trabalhos anteriores.

Boogarins - Lá Vem A Morte
(9/10)





É difícil não gostar de Boogarins e, principalmente, do último trabalho da banda. Com vocais doces, lindas melodias e um pezinho na experimentação, Lá Vem A Morte é um disco irresistível e capaz de arrastar qualquer um pra dentro de sua atmosfera solar e psicodélica. É difícil escolher destaques em um disco tão conciso, mas sem dúvidas um de seus pontos altos é "Onda Negra", que com seus vocais angelicais e uma instrumentação criativa é simplesmente uma das músicas mais gostosas do ano.

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